segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Carnaval

O que o fetiche quer com Laura? Quer enlouquecê-la? Quer ser mais esperto que ela? Isso é impossível! Mesmo que ele tenha mil caras, Laura sempre reconhecerá o fetiche em meio a elas. Reconhecerá seu cheiro, seu pensamento, suas intenções, seus atos e suas máscaras.
Máscaras. Por que o fetiche não consegue simplesmente ser ele? Suas máscaras têm sempre que ser mais fortes? Se o fetiche soubesse o quanto é encantador por si só, guardaria seu repertório de fantasias para a época de carnaval!

Impotência

Laura chora. Chora porque não sabe pra onde ir. Ela tem dois caminhos. Mais. Ela tem vários caminhos, mas nenhum lhe parece seguro. Como a moça perfeita pode ter dúvidas? Ela sempre sabe o caminho a percorrer e dá conselhos a quem não sabe escolher.
Agora Laura chora porque perdeu seu senso de perfeição. Ela está só. Ninguém a entende porque nunca precisou que ninguém a entendesse.
De um lado está a segurança de uma vida cômoda, esperada há mais de uma década. Uma vida que passou por seus olhos e escorreu pelos seus dedos sem que ela sentisse o real gosto da paixão.
De outro lado está a aventura de lutar por um amor quase impossível, por alguém que ela sequer tem certeza que a quer de verdade, mas que sua intuição diz que quer. Essa vida não seria fácil; preconceitos, dúvidas, recomeço... porém traria um sopro de luz ao seu coração. Uma história nova, com viço, com fôlego, com excitação. A novidade em todas as sua nuances.
Ainda há outros pequenos atalhos que se delineiam aos olhos de Laura; incertos, mas são atalhos. Ela flerta e vez em quando recebe um retorno. Mas é tudo tão no ar, tão fugaz.
Laura precisa de segurança, mas precisa da novidade.
Chega de reciclar histórias velhas, de requentar pratos já experimentados e digeridos!
Laura é jovem, bonita, inteligente, madura. Merece alguém à sua altura, que seja homem na mais profunda expressão do conceito.
Laura chora porque chegou à conclusão que sempre inverteu os papéis. Agora ela quer ser mulher, seja ao lado de quem ela estiver. Ela precisa de segurança, precisa do novo, precisa de luz, quer fôlego novo!
Quer ser frágil, delicada, inocente, ingênua. Quer ser somente feminina e ofertar o que de melhor há numa simples mulher.
É você?

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Poema do amor falso

Não quero uma mulherQue seja gorda ou magraOu alta ou baixaOu isto e aquilo.
Não quero uma mulherMas sim um porto, uma esquinaOnde virar a vida e olhá-la De dentro para fora.
Não espero uma mulherMas um barco que me navegueUma tempestade que me aflijaUma sensualidade que me altereUma serenidade que me nine.
Não sonho uma mulherMas um grito de prazer Saindo da boca penduradaNo rosto emolduradoNo corpo que se apóieNas pernas que me abracem.
Não sonho nem esperoNem quero uma mulherMas exijo aos meus devaneiosQue encontrem a únicaQue quero sonho e espero Não uma, mas ela.
E sei onde se escondeE conheço-lhe as senhasQue a definem. O sexoArdente, a volúpia estridenteA carência do espasmoO Amor com o dedo no gatilho.
Só quero essa mulher Com todos seus desertosOnde descansar a minha peleExausta e a minha boca sedentaE a minha vontade famintaE a minha urgência aflitaE a minha lágrima austeraE a minha ternura eloqüente.
Sim, essa mulher que me excite Os vinte e nove sentidosA única a saberO que dizerComo fazerQuando pararOnde Esperar.
Essa a mulher que esperoE não esperoQue quero e não queroEssa mulherportoesquinaQue desejo e não desejo Que outro a tenha.
Que seja alta ou baixaIsto ou aquiloMas que seja elaAquela que seja minhaE eu seja delaQue seja eu e elaEu ela eu lá nelaQue sejamos ela.
E eu então terei encontrado A mulher que não procuroO barco, a esquina, Você.Sim, você, que espreitaDo outro lado da esquina, no cais,A chegada do marinheiroComo quem apenas me espera.
Então nos amarraremos sem vergonha À luz dos holofotes dos teus olhos,E procriaremos gritos e gemidosQue iluminarão todas as esquinas.
Será o momento de dizerAchei/achamos amei/amamosE por primeira vez vocalizar oSomos, pluralizando-nos Na emoção do encontro.
Essa a mulherque não procuronem espero.Você, viu? Você!

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

A inércia do brinquedo

Dias nublados. Eu tenho uma mania muito feia; para os outros, bem cômoda. Sempre que gosto de alguém, seja como amigo, seja como amante, seja como afeto, ou os três, eu teimo em querer mostrar para a pessoa certas coisas que ela deveria enxergar naturalmente. Essa é a minha visão docente e autoritária. Não posso querer que todos tenham o mesmo prisma de vida que eu.
Mas a moça linda pode discordar de muitas atitudes. O fetiche tem sido um mau menino e, embora ela tenha falado, ele continua a ser o brinquedo mal criado que ela quer jogar fora e não consegue.
O fetiche quer brincar de ser Deus: sempre querer saber o que virá no futuro, seja ele amanhã ou ano que vem. Por ser inerte e covarde diante da vida, arrumou um outro brinquedo, uma espécie de mamulengo, que manipula com mais facilidade sem precisar tomar decisões, sem se expor ao real. Ela não entende porque ele quer brincar de ser Deus, porque ela já é deus! Ela não aceita que ele queira brincar com outro brinquedo se ela é o melhor deles.
O fetiche, porém, não tinha vontade de deixar de ser assim. Sua natureza era inerte. Até a brincadeira de ser deus faz parte da insegurança do fetiche, da covardia diante dos desafios. E o fetiche passou a ser ideologicamente dependente do mamulengo. Os dois eram os brinquedos perfeitos, alimentavam brincadeiras perfeitas, mesmo que frustradas. Não havia amizade nem amor. Mas havia conveniência e disso a moça bonita entendia...
O mamulengo e o fetiche inverteram as posições. Agora o mamulengo vinha primeiro, até na ordem das frases. Eram dependentes um do outro e criaram mecanismos de defesa para que ninguém penetrasse na cortina de ferro que criaram como cenário. Outros brinquedos não podiam brincar juntos. Apenas a moça bonita era convidada e, mesmo assim, sempre para interpretar a inimiga nas brincadeiras. Não havia amigos, não havia convivência. Não havia leveza. Não havia transparência. Tornaram-se uma simbiose estranha, medíocre e medonha, com dogmas intransponíveis.
O mamulengo era pesado com a moça, irônico e sarcástico. A moça perfeita se sentia cansada, machucada, ferida na alma, impotente na sua perfeição. Ela era a ameaça porque já era deus. Porque convencia e manipulava sem ser mamulengo.
Ela ficava triste porque não queria deixar de ser a moça bonita, só queria brincar, só queria ser livre! Mas o mamulengo era superficial e o fetiche era profundo. A profundidade do fetiche era a brincadeira que a moça queria; a superficialidade do mamulengo era o defeito do brinquedo que ela queria jogar fora.
E o que era mais contraditório era o gosto que a moça tinha pelo mamulengo. Beirava a paixão. Ele era agradavelmente sedutor e gostava de ser deus como ela. Com o fetiche ela se sentia livre, brincava, sorria, era a personagem completa. Com o mamulengo ela exercitava suas capacidades e seus instintos; começava a se apaixonar pelo seu próprio lado obscuro. A sombra da maldade. Do mamulengo ela queria experiência. Do fetiche ela queria liberdade. De um a paixão, do outro o amor. O egoísmo do mamulengo a fascinava por ser tão explícito, por ser franco; a franqueza que em toda sua perfeição e divindade, ela não conseguira atingir.
Assim, quem ficou inerte foi a moça linda... Porque as coisas não são medíocres e oportunistas dessa maneira, podem acreditar...

O crédito sem fim

Dias passados. Era tudo lembrança e nostalgia. Foram poucas vezes que o meu eu real se viu recompensado por sua essência generosa...
Mas a personagem sempre recebia recompensas. Todos os homens mais interessantes sempre caiam aos seus pés. Se não caiam, ficavam encantados e, com o tempo, ou se tornavam seus amantes, ou seus amigos, ou os dois! Que mais poderia querer da vida? Bastava olhar, desejar, e tudo acontecia; melhor até do que planejara. Não havia débitos, apenas créditos. Todos tinham crédito com ela porque era doação sem fim. Tudo era recompensado e recompensador na medida dos seus caprichos.
Sua família era linda, ela era brilhante! Seus irmãos eram belos e amorosos, ela era a guia! Seus pais eram o modelo de relacionamento moderno pseudo-social, ela era o reflexo! Todos haviam conquistado aquele espaço deliciosamente e minuciosamente planejado por ela e ela manipulava esse espaço.
Absolutamente tudo era lícito e conveniente na mesma medida. O controverso era empírico e a experiência era a razão. O crédito jamais teria fim porque não havia débito.
Ela fazia tudo que sua cabeça mandava e seu orgulho moldava. Assim, se era prudente ser benéfica, fazia a boa ação sem esperar retorno porque o retorno era o próprio ato e o prazer que o cálculo da atitude proporcionava. Era feliz assim, linda, altruísta, descolada, vanguardista. Não havia falhas, não era necessário ter crédito para se beneficiar. Bastava estar no alvo dela.

O brinquedo que não sabia brincar

Dias reais. Era tudo o que queria. Mas a virtualidade da minha vida insistia em permanecer. O personagem que criei havia se tornado mais forte do que o meu eu real...
Que linda! Uma moça forte, corajosa, bem resolvida, atraente, bonita, sexualmente satisfeita, com muitos amigos, com uma vida social agitada, morando em um excelente condomínio, num excelente bairro, na cidade dos sonhos de muita gente. Aos 30 anos já havia feito as três coisas fundamentais de um ser humano: plantado uma árvore, tido uma filha e escrito um livro. Quem não gostaria de ser aquela moça que espalhava conselhos aos quatro ventos e era o guru até da sua família. Nas virtudes femininas, era a mais fêmea das mulheres; nas desvantagens de ser mulher, tinha comportamentos cheios de testosterona. Buscava as falhas em si, pois além de tudo era humilde... e não encontrava.
Até que surgiu um fetiche para colocar a moça linda diante do espelho. Há maldade no DNA da personagem. O lado mais negro de um ser humano estava presente na moça perfeita, correta, amiga, amante.
O fetiche era como um brinquedo que ela não havia gostado de brincar porque ele não sabia brincar; não era o brinquedo que era desinteressante, era ela quem não sabia o que fazer com ele. Era um Adônis, de semblante forte, olhos expressivos, corpo definido, voz macia e jeito sedutor. Capa dura e essência frágil, insegura, pedindo para ser protegido, cuidado, embalado.
A moça, que queria jogar o brinquedo fora, não sabia mais o que fazer porque o brinquedo havia se tornado parte do cenário da personagem. Para se livrar do brinquedo, ela teria que se livrar dela mesma, da personagem. Ela não sabia mais ser ela mesma, aquela criatura real com falhas reais, fraquezas reais, inseguranças, tristezas, mentiras e verdades, absurdos e trajetória comum.

domingo, 11 de novembro de 2007

Mundo virtual: a gênese

Querido papai, gostaria de ter sido a rainha da sua vida como você queria. Gostaria de ter sido tão bela quanto você queria. Gostaria de ter tido tanto sucesso quanto você desejaria que eu tivesse. Gostaria de ter a auto-estima que você queria que eu tivesse. Gostaria de ser perfeita como o espelho dos seus sonhos.
Mas querido papai, sou apenas uma mulher, comum, frágil, sensível. Na minha vida real não há glamour. Há sábados sem companhia, há noites com relógio parado, há histórias mal resolvidas, há trechos obscuros, há esquizofrenia, há sofrimento, há superação, há desconforto, há perturbação. Sim, existe vida, existe amor, existe progresso e existe até beleza. Porém, o balanço é a busca, é a metamorfose, é o crescimento.
Querido papai, me entenda. Não posso ser o que você gostaria, mas posso ser melhor. Alguém dentro de mim é melhor. É tudo aquilo que você sonhou e mais um pouco. É o resultado de toda alquimia entre conveniência, sedução, prazer, poder e sucesso.
Essa moça linda, querido papai, também sou eu! Sou feliz por te dar essa alegria e não deixar que seus dias passem sem saber que era eu... querido papai, todo tempo era eu; querido papai, sou eu!
 
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